Monday, May 23, 2011

TV untitled

A luz incidia com a sua habitual brusquidão melosa nos meus olhos e no meu cérebro. As cores cruzavam-se consoante o trocar dos planos, corpo inteiro, grande plano das caras, aquietando qualquer touro enraivecido. O áudio preciosamente nivelado e calibrado entrava a direito pelo meu ouvido interno adentro, fechando-me numa bolha só para mim, sem precisar de oxigénio, toque, alimento ou sinal de vida exterior. Quem me visse de trás reparava certamente num halo amarelo angelical à minha volta, e se se concentrassem veriam que estava a levitar. As minhas pupilas dilatavam e encolhiam consoante a luminosidade irradiada pelo ecrã, encaminhando por todo o corpo torrentes de prazer e deleite. Sem dar por isso sabia que todas as minha glândulas artérias poros e nervos borbulhavam o milagre da vida dentro de mim, tranquilizando o meu cérebro que se ocupava única e exclusivamente com a recepção de preciosa informação transmitida por via de frequências hertzianas. Sou um só, comigo e com o mundo, lá fora, cá dentro, no eterno e no agora. Não me incomodem, estou a ver televisão.

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