Thursday, November 19, 2009

This is not a funny post

Ando com um arrepio na espinha desde ontem à noite. Um daqueles tilintares interiores inexplicáveis que se sentem quando passa por nós qualquer coisa arrebatadora. Aconteceu ontem, e da maneira mais contemporânea possível, com a referência a um post no youtube, num chat no Facebook.
Abro aqui e agora a primeira excepção à colocação de um vídeo neste singelo blog. Acredito que é possível, hoje em dia, expressarmos a nossa identidade mostrando ao mundo virtual trabalhos e manifestações criativas de terceiros, fragmentando o que nós somos, os nossos gostos, em Youtube shares no Facebook. Até agora achei por bem separar as minhas influências dos meus próprios 'derrames' ou criações, cada qual no seu site ou rede social, cada macaco no seu galho.
Mas ontem qualquer coisa mudou. A experiência pela qual passei, repetidas vezes, sentado à frente do computador, e que consegui de certa maneira trazer comigo, colocando as músicas no leitor de MP3 (que já funciona), acabou por fundir ambas as coisas, criação com influência, e obrigou-me a pegar na caneta - e posteriormente nas respectivas teclas - e a essencialmente congratular o senhor que fez a(s) obra(s) da qual resulta este meu devaneio.
Não o vou chamar de génio, porque de certeza que ele está farto de ouvir isso das muitas pessoas que antes de mim chegaram ao seu trabalho. As coisas agora têm uma mania de se propagarem à velocidade da luz - ou da fibra - e foi graças a isso mesmo que estas pérolas foram criadas e espalhadas pelo mundo.
Ao ouvir a 1ª e a 2ª e todas as músicas que encontrei senti uma sensação arrepiantemente agradável mas ao mesmo tempo um peso sobre os ombros. Talvez um sentimento de responsabilidade, de mostrar isto ao (meu) mundo, ou até de querer eu próprio fazer qualquer coisa a esta altura, de tocar - ou melhor esmurrar - emocionalmente desconhecidos pelo planeta fora.
Depois de uma mínima e preguiçosa pesquisa percebi que já muita gente ouviu as obras deste senhor, que é um produtor musical israelita, e que já lhe deram o devido valor, o que me tirou algum peso dos ombros. A Time Magazine incluiu a sua obra - ou no contexto, o seu processo criativo - numa lista das 50 melhores invenções de 2009.
Falava no outro dia com o jovem que partilha comigo a tarefa de excrementar coisas neste blog sobre invenções que mudam o mundo como o conhecemos. Pequenas e grandes ideias que nos dão a volta, viram-nos ao contrário e nos põem a pensar e a acreditar de maneira completamente diferente. Kutiman é, para mim, um óptimo exemplo.
Isto não é o futuro, é o agora. Dependemos de inovações tecnológicas para não entupirmos o ciber-espaço de entulho, que aumenta e se vai acumulando a cada segundo com vídeos, receitas, fotos e outras tretas e jóias. Este senhor lembrou-se de reciclar as coisas que ia encontrando, as boas e as más, e criar com esses bocadinhos uma coisa de uma dimensão e de uma multiculturalidade que ainda não parou de ecoar em mim, nem no meu MP3, nem no meu computador. Adorava, neste momento, ouvir as músicas sem conhecer o seu contexto, para ver como me faziam sentir. Será que estaria na mesma, será que me iriam bater na cara e no corpo da mesma maneira? Duvido.
Escolhi um como poderia ter escolhido outro. São todos bons, procurem mais. Vejam, oiçam, pensem, saquem, divulguem e partilhem. É para isso que aqui estamos.

Monday, November 16, 2009

O bico (d'obra)

Existe um pacto secreto entre todos os obreiros deste país. Eles são, no fundo, uma espécie de maçonaria do colete reflector e do capacete de plástico. Têm os seus rituais de iniciação, a sua farda, os seus segredos, e apesar do acesso a este grupo ser fácil, a saída é praticamente impossível.
Há uma regra de ouro, instaurada desde que o Homem começou a construir. É a melhor maneira dos novos trabalhadores serem avaliados, e é o que faz a obra ir para a frente. Falo do jogo de olhar atento e observador à traseira de toda e qualque mulher que passe. Penso que os tempos de glória do piropo já passaram, e o que ficou foi a intensa observação em silêncio do chamado rabo. O que a maioria das pessoas não percebe é a extrema dificuldade de cumprir sempre e a todo o custo este regra. É que toda a gente aprecia bons rabos, mas os maus, esses chegam a fazer chorar. E como é sabido há-os de todos os tipos, flácidos, plácidos, gigantes e aconchegantes, e os pobres obreiros têm sempre que acompanhar o movimento de ancas da mulher até que esta saia do seu campo de visão. Custa ver um jovem obreiro a ser testado, fazendo um esforço sobre-humano para não cerrar os olhos nem afastar a cara a uma traseira feminina que sabe Deus como se assemelha à letra R, enquanto os seus peers, os obreiros mais velhos procuram qualquer desfalque do rapaz, para lhe caírem em cima e chamarem nomes como 'excêntrico' ou 'de pouca gratidão'.
Após um período experimental, a Filândia teve que proibir o acesso a obras aos homosexuais, pois os seus índices económicos de produtividade que lideravam as tabelas europeias foram logo ultrapassados. O obreiro-intelectual é já uma espécie extinta, que pouco tempo sobreviveu nas empreitadas. É que qualquer indivíduo que aproveitasse a pausa do almoço para ler e não para se sentar no local mais movimentado a comentar bundas com o colega era imediatemente erradicado e afastado do seu serviço.
Temos nas mãos um grave problema social, que infelizmente nos toca a todos. Vamos fazer com que este país ande para a frente, que este tipo de bullying cesse de imediato, vamos ajudar os obreiros deste país.

Friday, November 13, 2009

O tamanho não é tudo

Como há os solários para os bons vivants, haverão arcas frigoríficas para os góticos?

De comboios, e afins




"- Será que eu ainda vou comer a minha toranja?
- Atão, tu é que sabes, ela tá lá à semanas...
- Nós até já fomos a Espanha...
- E ela ficou cá."


in Semi-Rápido Cascais - Lisboa (11/11/09)

'O Fantástico Sr. Raposo', ou o cinéfilo sai da toca para ir ao festival

Há um tom alternativo ou independente na juventude cinéfila de hoje em dia. Por motivos que ainda desconheço, há uma predominância de tons escuros na escolha cromática destes futuros artistas, no que toca ao seu vestuário. Talvez isto se transponha para as suas obras e ideias, e talvez seja esta a causa da grande diferença entre cinema europeu e cinema americano, o primeiro mais contemplativo e parado e o último de reacção imediata e ritmo acelerado; um negro e outro colorido.
Para além da dita tonalidade na roupa há duas peças fundamentais no armário do jovem cinéfilo. A primeira é o que dá mais pontos na subida de nível intelectual, é o adereço que mais modifica a personalidade destes intervenientes. São, claro, os óculos. Os óculos, para além de tornarem um pobre sem-abrigo numa distinto erudito, fazem qualquer observador à sua volta pensar: 'Este gajo tem óculos, deve ler muito'. O segundo modelador deste perfil é uma combinação de dois artigos, um afamado 2 em 1. Falo do blazer por cima da t-shirt. Esta junção divinal permite-nos identificar um amante da 7ª arte a 100m de distância - o casaco fino de linho sobrepõe-se a uma t-shirt (preta, lá está) que normalmente contêm uma frase irreverente ou uma referência a um filme ou uma banda, quanto mais obscuros melhor. Há um terceiro elemento definidor mas é usado sazonalmente, daí não o incluir como obrigatório. Trata-se do cachecol, que quando bem associado ao combo blazer + t-shirt torna-se uma perigosa arma de sedução e engate.
Por isso já sabe, para evitar maus-entendidos e olhares reprovadores, num próximo festival de cinema previna-se, deixe a sua camisa de ocasião em casa e venha vestido a rigor. Quanto mais vampiresco melhor.

Tuesday, November 03, 2009

Terramoto na terra de Jesus põe bolas de berlim a 50 cêntimos.

Na verdade o título era só para chamar atenção. Psst aqui! Oh amigo, lê lá isto se fazes favor, que ainda perco o meu lugar ao sol.

De facto tenho vindo a reparar em algumas alterações subtís na nossa empresa que é "umaempresadaquelas". Jà deve ter reparado, caro leitor(quem?), que os últimos posts têm sido escritos por um indivíduo que dá pelo nome de Pastel de Bacalhau e que cheira do mesmo modo. 

Pois isto não é uma coincidência! Ah pois não. Trata-se daquilo a que se chama uma tramóia de Bucelas. (Para quem não conhece a história de Paulo Azenhafas, o camarão perneta e a grande Tramóia de Bucelas - 1867 - que procure no Google ou vá nadar mariposa para o Tejo).

Tenho reparado que alguns e certo funcionários do nosso blog têm tido direito a regalias tais como "cursos de expressão escrita", que a meu ver é uma data de paneleiros sentados numa sala com cadernos limpinhos e novinhos e canetas de todas as cores para sublinhar, corrigir, expressar os seus sentimentos, partilhar com os colegas e... enfim uma paneleirice! Mesmo sendo uma paneleirice, sinto-me no direito de reclamar a minha regalia. Se este indivíduo tem direito a um curso boiola eu quero o GrillMax 250 que dá para 45 entremeadas de uma só vez.

E enquanto aguardo pelo meu prémiozinho, deixem que me mostre indignado com outra situação... O meu colega do cubículo ao lado, um tal de Zee, foi despedido! Tudo bem que nunca veio trabalhar, que eu visse, mas tinha uma placa na porta que dizia ZEE. E agora retiraram a placa e fizeram do cubículo dele uma sala para jogar gamão-twister (Quem nunca jogou não sabe o que perde!). 

Por acaso já tinha ouvido o Zé Manel, a Joana, a Sara, o Sebas, a Amélia Buarque, o João Alegrias, o Tiago, o Alfredo, o Tóni, o outro Tiago, a Sandra, a tia da Sandra, a prima da tia da Sandra, a filha da nora do tio-avô adoptivo do sogro da mãe da irmã do entiado de já não sei quem, a Telma, o Guilherme Gambas e o Ruka dizerem que o ZEE não era homem para emprego nenhum que não contasse na seguinte lista:

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Portanto acho que quem o contratou não sabia nada disto.

ZEE, vai em paz. Patrão, quero o GrillMax 250 e Jesus vê lá se apareces outra vez e não é a treinar o Benfica. Até porque a meu ver esses teu milagrinhos que tens feito não vão ser suficientes. Andas a perder qualidades hã... pois é... o tempo não perdoa. 

E pronto, esta é a minha outra nova táctica: inserir sempre no fim da mensagem um comentáriozinho sobre futebol ou a tua mãe... As duas únicas coisas capazes de demover qualquer homem a expressar-se.

Dito isto, virgula.

De tecnologias, e afins

Acho que há uma relação intrínseca entre o volume com que se fala ao telemóvel em público e a utilidade ou interesse do assunto para as pessoas à volta. Quanto mais de uma, menos de outra. Eu pertenço ao extremo minoritário de pessoas que não gosta de falar de assuntos pessoais ao telemóvel em público, com desconhecidos à volta. Por isso é que falo muitas vezes em código para o microfone, tão baixinho que pareço um rato. Não sei se é receio de alguém descobrir o que é que vou comer ao jantar ou se é apenas vergonha. Não gosto (mas rio-me) de pessoas a berrar para um tijolo que pisca a darem raspanetes auditivos ao filho ou a especificar em demasiado pormenor o que o médico disse sobre a infecção urinária ou que o estúpido do Miguel lhe chamou labrega e já não é a primeira vez e ela não admite que ele a trate assim. Com o volume que ditos fulanos usam para falar ao telemóvel, mais parece que estão a ligar para o número de emergência nacional a advertir um incêndio ou um assalto.
Mas no fundo todos queremos ser protagonistas deste teatro que é a vida. Não, isto é farsola. No fundo todos queremos ligar com desconhecidos. Ainda não. No fundo toda a gente usa os transportes públicos como sessão terapêutica. Pode ser.